Líderes religiosos da região destacam o crescimento impulsionado pela juventude e redes sociais no combate à intolerância, enquanto lutam por maior representatividade política e reconhecimento legal.
Neste sábado, 15 de novembro, o Dia Nacional da Umbanda é celebrado no Brasil, marcando uma data de reflexão sobre a fé, a ancestralidade e a resistência das religiões de matriz africana, com forte presença no Alto Tietê.
Apesar dos avanços, a luta contra a intolerância religiosa ainda é uma realidade. Mãe Karina Alves dos Santos (Mãe Karina de Oyá), zeladora da Casa Zé Pilintra do Morro e Pai José Nagô, em Biritiba-Mirim, relembrou o preconceito vivenciado: “Quando eu estava toda de branco andando na rua, as pessoas trocavam correndo de calçada, é um preconceito terrível”.
No entanto, essa realidade está sendo gradualmente transformada, em grande parte, pelo poder da internet e da juventude.
- Redes Sociais como Aliadas: Muitos terreiros hoje compartilham abertamente o dia a dia de seus rituais, quebrando estigmas. O sacerdote candomblecista de Angola, Lindemberg Alves (Tata Senza Roxe), de Mogi das Cruzes, afirma: “O que mais tem impulsionado a umbanda e o candomblé é a juventude. Através das redes sociais, isso vem contribuindo muito, mostrando orgulho da vestimenta.”
- A Força da Lei: A legislação recente (Lei 14.532/2023), que equiparou a injúria racial ao crime de racismo, oferece maior proteção. Tata Senza Roxe recordou um episódio de recusa de serviço por suas vestes, algo que hoje tem respaldo legal mais rigoroso.
✊ Territórios de Sabedoria e Caridade
Os terreiros são vistos como pontos de resistência e guardiões de saberes ancestrais que atravessaram a escravidão. Mãe Karina de Oyá explica que a Umbanda, religião brasileira de matriz africana com mais de 100 anos, é uma mistura dos cultos Banto, Indígena, Catolicismo e Kardecismo.
- Orixás e a Natureza: Na Umbanda, os Orixás são os guardiões dos pontos de força da natureza. A religião reverencia figuras como Jesus e Deus, mas segue a orientação dos Orixás e das entidades.
- Lei Maior é o Amor: Segundo Mãe Karina, a lei máxima da Umbanda é a caridade. “É você se doar a alguém que você nunca viu. Doar seu tempo, a gente ajuda com doação de roupa, de alimentos… A lei maior é a caridade.”
♀️ Força Matriarcal e Representatividade
A representatividade feminina e a força matriarcal são pilares essenciais na Umbanda e no Candomblé.
- A Mãe Espiritual: No terreiro, todos são considerados filhos e filhas. Mãe Karina destaca seu papel como “mãe espiritual”, responsável por “ensinar o espiritual, como aprender o espiritual, a gente trata mesmo como se fosse filho espiritual, filhos do coração”.
- Liderança Feminina: A mulher é o poder na religião, acolhendo e cuidando das entidades. Na Umbanda, a participação feminina é plena, incluindo o toque do atabaque.
Tata Senza Roxe, que também é pedagogo e atua na formação de professores, ressalta a importância de maior representação política para os povos de terreiro em Mogi das Cruzes, cidade com centenas de casas de culto.
“Não temos nenhum representante na política, e isso impede que tenha políticas públicas pros povos de terreiro”, lamentou.
Em Mogi das Cruzes, Alves e Baba Danilo de Oxaguiã são idealizadores do prêmio Paz e Liberdade, que homenageia anualmente, desde 2022, integrantes das religiões de matriz africana, combatendo a intolerância.
Crédito das Imagens: Karina Alves dos Santos/Arquivo Pessoal e Lindemberg Alves/Arquivo Pessoal.


